Hoje é um dia triste para mim. Acabo de receber a noticia que morreu o jornalista, contador, advogado e coronel aposentado da Polícia Militar do Paraná Antônio Cipriano Bispo.
Para mim, o Bispão era mais que um amigo. Era um irmão, meu professor de jornalismo automobilístico. O conheci na segunda semana de janeiro de 1982, quando fui cobrir o Campeonato Brasileiro de Kart, realizado no Kartódromo do Flamengo, em Foz do Iguaçu, para o Jornal O Paraná. Ele era o assessor de imprensa do Conselho Nacional de Kart, hoje Comissão Nacional de Kart. Era a primeira competição de Rubens Barrichello e Christian Fittipaldi, na época os grandes nomes da categoria Júnior Menor. Como eu era um foca, pouco conhecia de jornalismo e muito menos de automobilismo. Era o meu primeiro grande trabalho, pois tinha assumido a editoria de automobilismo do jornal O Paraná no fim de 1981. Até hoje uso suas dicas de texto, macetes e etc. De imediato, nos tornamos amigos e passei a ser o garoto de sua turma, que tinha também Wilson Libório, jornalista de Florianópolis, que faleceu recentemente. Salvador Sendin (da Gazeta Esportiva, de São Paulo), J. J. Bitencourt (Gazeta do Povo), Antônio Carlos (na época Indústria e Comercio e hoje homem de TV) e outros. Éramos inseparáveis em corridas e nos lançamentos da indústria automobilística.
Quem era Bispo
Mas para que conheçam um pouco de sua historia, Bispo era sargento da PM e prestou grandes serviços nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná no fim da década de 50 e início da década de 60. Era o mestre em resolver conflitos de terra nestas regiões, especialmente em Pato Branco e Francisco Beltrão. Também era sempre escalado para comandar a PM nos clássicos Atletiba do início dos anos 60. Estava em serviço no Palácio Iguaçu quando do golpe de 1964. Estava chefiando a guarda do então governador Ney Braga. Mesmo com Ney Braga aderindo a Revolução, Bispo foi cassado e preso. Só no início dos anos 90 ganhou na Justiça o direito de ser reincorporado à PM e foi alçado do posto de Coronel.
Ao sair da prisão, Bispo estava desempregado e foi convidado por Paulo Pimentel, diretor do jornal O Estado do Paraná, que o conhecia da PM, para ser revisor do jornal. Logo foi convidado a escrever sobre automobilismo e nasceu o suplemento Jornal do Automóvel do jornal o Estado do Paraná. Bispo foi seu editor por quase 50 anos e teve como sucessor o seu filho Alexandrino Bispo Neto, que permaneceu no cargo até o Estado do Paraná ser vendido para o Grupo RPC.
Bispo integrou o grupo formando por Joemir Beting, Luiz Carlos Secco, J. J. Bitencourt (e outros dois que não me lembro o nome agora) como os primeiros jornalistas a escrever exclusivamente sobre automobilismo e Secco como editor de esportes do jornal O Estado de São Paulo passou a dar destaque para um jovem que brilhava nas pistas. Este jovem era Émerson Fittipaldi, que em 1972 viria a se tornar o primeiro brasileiro a ser campeão mundial de Fórmula 1.
Bispo era amigo para todas as horas e tinha história que renderiam livros, filmes, minisséries. Uma delas, foi em 1987. Toda a patota estava no Rio de Janeiro para cobrir o GP Brasil de Fórmula 1, em Jacarepaguá, quando Antônio Carlos teve o pedido de credenciamento negado. Calmamente, Bispo disse que resolveria. Pediu uma procuração para Antônio Carlos e foi ao fórum entrar com uma ação. Resultado, sua petição foi tão bem feita, que o Juiz de Plantão lhe deu ganho de causa e determinou que ele mesmo levasse seu despacho aos representantes do já todo poderoso Bernie Ecclestone. Clóvis Maia Mendonça e Chico Lellis, que trabalhavam para Ecclestone até tentaram se esquivar, mas a decisão era clara. Ou credenciavam Antônio Carlos ou não teria Fórmula 1 no Rio. E assim foi feito. O primeiro treino da sexta-feira, uma Sexta-Feira da Paixão, só começou quando colocaram a credencial no peito de Antônio Carlos. A ordem para o comandante do policiamento era colocar um cancela na saída dos boxes e impedisse que pilotos como Nelson Piquet, Ayrton Senna, Maurício Gugelmin, Alain Prost e muitos outros mais talentosos do que os de hoje, fossem à pista. Bernie Ecclestone, baixinho arrogante dava pulos. Neste tempo, a Fórmula 1 não era a chatice de hoje e Bernie e todos iam a todos os cantos do autódromo. Bernie descobriu que de acordo com a Constituição Brasileira, um jornalista não pode ser impedido de exercer a sua profissão. Este fato tornou-se referência mundial.
Vai com Deus amigo, até um dia….
Josi e Bispinho tenham força.
Texto (Luiz Aparecido Editor do site Cascavelnews)