Em seção de julgamento, realizada na noite de ontem, o Tribunal de Justiça Desportiva da FASP- Federação de Automobilismo de São Paulo, finalmente foi decidido o recurso apresentado pelo kartista Raphael Raucci (Refrigerantes Dolly/ULV/KartZoom) ao resultado final da prova da categoria Junior GB30 na nona etapa da Copa São Paulo de Kart Granja Viana (segunda do Play-off) da temporada 2008.
Em inédita situação jurídico-desportiva os Juízes Auditores do tribunal decidiram por maioria absoluta quatro votos a um dar ganho de casa ao kartista paulista, confirmando a vitória que de fato Raphael Raucci havia conquistado por méritos na pista, mas havia lhe sido sonegada por grave erro da Direção de Provas do certame regional paulista.
Entenda os fatos:
Raphael Raucci – que atualmente compete na categoria Graduados nos certames nacionais e Shifter Kart Junior, no certame da Granja Viana e Campeonato Brasileiro de Shifter Kart à época competia na categoria Junior GB30, que acolhia em grid único pilotos das categorias Junior Menor e Junior.
O certame, disputado em dez etapas ao longo do ano, cumpria a fase do play-off composta pelas três ultimas rodadas . Era a segunda etapa do play-off e Raucci disputava milimetricamente a vice-liderança do campeonato.
O traçado adotado pelos organizadores para a etapa era inédito, em sentido inverso ao habitual e sem passagem pela reta da Torre de Cronometragem, pelo que a linha final acabou postada embaixo da passarela da reta principal, poucos metros antes de uma forte freada, com uma curva extremamente fechada e um perigoso muro de concreto margeando a variante. Também ao final dessa reta, porém, em sentido contrario ao da curva, estava colocada a entrada do Parque Fechado, de ingresso obrigatório aos competidores ao final da corrida.
Ante o risco da ocorrência de acidentes no exíguo espaço entre a linha de chegada e entrada do Parque Fechado, a Direção de Prova determinou no brieffing ministrado aos competidores antes da corrida que após o encerramento da competição dessem mais uma volta, de desaceleração, pelo circuito completo.
Decidido a lutar pelo título, Raphael esbanjou habilidade e categoria naquela rodada do certame regional paulista, estabelecendo a pole position e liderando a corrida, praticamente de ponta a ponta. Ao término das vinte voltas regulamentares, Raucci recebeu a consagradora bandeirada final na primeira colocação, indicando sua vitória naquela corrida.
Porém a Direção de Prova, por alegados motivos de segurança ao sinalizador e sem qualquer informação prévia aos pilotos da categoria, deslocara durante o curso da prova o responsável pela apresentação da bandeira para cerca de vinte metros antes da linha de chegada, em posicionamento diverso do mantido nos treinos classificatórios e mesmo das provas já realizadas no mesmo dia.
Cumprindo a determinação da Direção de Provas, Raphael Raucci desacelerou seu bólido após receber a bandeira a quadros, símbolo maior da vitória e única referencia visual disponível aos pilotos. Ao mesmo tempo, o então segundo colocado na prova, o piloto Felipe Ferrareto, emparelhou seu kart para os também habituais cumprimentos ao vencedor. Todavia, como o sinalizador havia sido postado com mais de vinte metros de antecedência da linha de chegada oficial, ponto em que os sensores da cronometragem registravam o tempo de voltas, Ferraretto acabou cruzando a linha final com 50 milésimos de segundo de vantagem para Raphael Raucci.
Sob a ótica de que o que vale é o registro eletrônico da cronometragem, a vitória acabou sendo atribuída a Felipe Ferraretto, o real segundo colocado. Na cerimônia do pódio, Ferraretto mostrou seu fair-play e reconhecimento dos reais fatos ocorridos em pista, chamando Raucci para dividir consigo o alto do pódio.
Inconformado com a decisão final decorrente do grave erro da Direção de Provas, que induziu o vencedor de fato da corrida a erro, Raphael Raucci insurgiu-se contra a mesma nas barras do tribunal.
Após a colheita de provas documentais e testemunhais e de acalorados debates entre os advogados de Raucci e da FASP- Federação de Automobilismo de São Paulo, que figurou no pólo passivo, os magistrados entenderam assistir razão ao piloto recorrente, assinando que a bandeira quadriculada é o símbolo maior, tanto para os competidores, quanto para o publico assistente, do posicionamento final das corridas do automobilismo em todo o mundo. Ainda segundo a decisão, a função dos sensores eletrônicos é tão somente para efeito de dirimir-se eventuais duvidas de posicionamento, quando os carros cruzam a linha final muito próximos, ou emparelhados. Ainda segundo o brilhante voto do Auditor Relator do processo e acompanhado na totalidade pela maioria dos membros do Tribunal de Justiça Desportiva, a Direção de Provas influiu no resultado final da corrida, ao errar em postar o sinalizador em distancia despropositada da linha de chegada, efetivamente induzindo o real vencedor da corrida a erro.
Dessa forma, o Acórdão prolatado determinou a alteração do resultado final da corrida da categoria Junior GB30, valida pela nona etapa da Copa São Paulo de Kart Granja Viana, atribuindo-se ao recorrente Raphael Raucci (Refrigerantes Dolly/ ULV/ KartZoom) a vitória daquela corrida, com a conseqüente modificação da pontuação final do certame e outorga dos prêmios devidos ao vencedor da corrida.
Com quase dois anos de atraso, fez-se Justiça!